sábado, 28 de junho de 2008
Pessoa à luz da tarde
domingo, 22 de junho de 2008
Aquarela junina
domingo, 15 de junho de 2008
O santo sem altar

O Francisco veio para o apartamento há uns dez anos. A imagem nem não tem valor no mercado das artes, não é peça cobiçada por antiquários ou colecionadores de raridades. Estava numa lojinha de artigos religiosos misturada a imagens de budas, anjinhos, mandalas e até baralho cigano. Venda de miudezas religiosas e místicas, na verdade. A intenção era embrulhar o santo para presentear a uma pessoa que ouvira dizer que todo mundo deveria ter um santo em casa. Um santo da devoção. Se não fosse este o caso, que ela escolhesse o que lhe fosse mais simpático.
Quem tem seus santos de devoção sabe o que significa pedir e orar para eles. E as imagens ganham seus cantinhos especiais, com direito a velas sete dias e sete noites e outras variações. Há quem siga à risca “tratar o santo à vela de libra” como diziam os mais velhos.
O Francisco foi ficando em casa, passou Natal e Ano Novo. A embalagem de presente dentro do armário e ele sem destino. A pessoa a quem ele se destinava havia adotado uma santa Rita, a dos impossíveis, capaz de revolucionar vidas e operar milagres de quem deles duvidasse. Eleger o santo de devoção não é tarefa fácil, por isso muita gente segue a tradição familiar. A fé no santo, com todo respeito, se parece como amor ao time de futebol, a torcida passa de pai para filhos e filhas. Ou de mãe, que também tem suas preferências, não necessariamente a seleção brasileira.
Desfiz a embalagem. E agora José? O que é isso!!! O santo tem nome. E agora Francisco? Não havia uma cantoneira para acomodá-lo. Oratório que se preze é artigo de luxo em tempos de especulação imobiliária e de déficit habitacional. Mas o Francisco ficou na dele, não estava aí para perturbar quem poderia tê-lo no coração, único território onde sempre cabe mais um.
Creio que ficou feliz quando o deixei na estante, ao lado de Franz Kafka, Gore Vidal, Fernando Pessoa, Thomas Mann, Machado de Assis, romances policiais e até alguns livros classificados como literatura erótica. Não era intenção misturar alhos com bugalhos. Mas por outro lado, era uma medida preventiva, uma vez que não haveria a obrigação de acender velas e correr o risco de provocar um grande incêndio num prédio de 14 andares, com três apartamentos por andar e um monte de morador inadimplente. O Francisco sabe com é passar por altos e baixos, até mesmo por ter renunciado à riqueza.
O compromisso assumido, a partir daquele momento, era tirar sempre a poeira da estante, fazer um revezamento de escritores e dos livros da vez. O Francisco ficou lá. E foi ficando. E passaram-se os anos. Hoje dá para bater um papinho com ele sem culpa e sem precisar de analista. Reclamar de alguns transtornos sem fazer promessas mirabolantes.
Francisco é um santo! Não lhe sou devoto, desses de segui-lo em romaria, mas não há dúvidas de que São Francisco é um grande parceiro.
(Mês de Antônio, João, Pedro e Marçal. Santos das fogueiras juninas. Maior fogueira que a Amazônia? Impossível!!! Nem é preciso anunciar os números da destruição dados por institutos oficiais e organizações não governamentais, que faiscam nas manchetes com as estatísticas de plantão. Ronald Junqueiro).
sábado, 7 de junho de 2008
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Meu reino por um quintal
Os quintais davam a quem os possuía todo tipo de felicidade. O sentido de posse tem duas mãos ou enchem as mãos, sabe-se lá o que está valendo, pois os quintais nos possuíam também quando plantávamos uma muda que nos devolvia botões, folhagem, ramos e as flores donas de si por tanta beleza. Era um toma lá da cá sem restrição ou preconceito.
Ali estava uma criação que certamente alegraria a arca de Noé. Um punhado de milho e lá se juntavam ao banquete os patos, galinhas ainda solteiras ou poedeira com uma ninhada de pintinhos amarelinhos que mais pareciam brinquedos vivos fugidos da vitrine de uma loja. O bater de asas, a imponência preguiçosa dos patos, os galos grandes, os garnisés, os carijós. Os perus e peruas, os autênticos, diga-se de passagem. Sem retoques, botoxes ou mau gosto. E as marrequinhas e codornas.
A elegância discreta das meninas ficava por conta das picotas, sempre em grupos, com um cinza cheio de pintinhas brancas, um blazer fashion de penas. Um desfile sem retoques, digno das galinhas d´angola.
E havia as árvores, os passarinhos, as sombras, o ventinho, todos os sons de uma orquestra que aos poucos vai saindo de cena. Os maestros logo serão uma espécie em extinção. Nós, a platéia, não saberemos mais o que aplaudir, não teremos mais o que aplaudir, não teremos mais quintais. A platéia, um dia, também estará na lista das espécies ameaçadas de extinção. Que será despejada sumariamente dessas terras como já foram o curupira, os sacis, a matita perera, a mãe do mato, o caapora e as iaras dos igarapés. Sem tetos, sem florestas e sem rios.
Vão-se os anéis e ficam os dedos e as mãos. Ou não. Essa pode ser a medida da ambição e da insensibilidade, da ganância e da riqueza, moedas efêmeras que não valerão um dólar falso para comprar o que não existe mais: vida.
Poderemos construir quintais? Ou seremos apenas fotografias analógicas e digitais, uma fita de cinema, um meio-ambiente virtual lançado num satélite de náufragos perdidos no espaço?
(Dia Mundial do Meio Ambiente. Pará, campeão das queimadas. Florestas viram carvão. O paraíso que tantos falam é ficção. Nada mais do que ficção contada em exuberantes roteiros turísticos.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
domingo, 1 de junho de 2008
Tempo fechado. Coração quieto
Minha lua está na casa 8. O sol continua no nono setor. Eu fiquei por aqui. Meio pendurado no varal. Esperei junho chegar. 2008. Hoje choveu muito na cidade. Céu de chumbo. Lindíssimo. Volto para a estrada. Ou imagino asas. Sobrevôo-me.