domingo, 29 de março de 2009

Dias de chuva, dias ensolarados

Aqui só há duas estações: ou é inverno ou é verão. Ronald Junqueiro

Da minha janela vejo as mudanças do tempo, do vento, da vida. Um gosto de sol, às vezes de chuva. Vivemos assim, alternados, alternativas. Um lado que se oculta, outro que se expõe. Não por medo. Cada lado procura apenas a luz propícia, mesmo que seja uma breve chama a revelar ângulos, claridades, contornos, faces, linhas, lados, perfis, sombras, sutilezas.

Ninguém se mostra por inteiro. Esse é o grande lance. O melhor. E nem precisa ser esfínge. Ou ameaçar quem nos tenta desvendar. Deixa-se ou não. Nem a fome nem a sede podem ser a medida da nossa voracidade. Decifra-me ou te devoro? Pode ser o inverso: devora-me e me decifra. Podemos ser via de mão dupla. Ou beco sem saída.

Há dias de chuva e dias ensolarados.

domingo, 15 de março de 2009

Maria Alcina, maravilha do Brasil



Imperdível!

Se vale a indicação vá a uma loja de disco ou compre pela internet o novo disco da Maria Alcina. É isso, falo daquela que fez o Maracanãzinho vir a baixo jogando pra galera “Fio Maravilha”, de Jorge Benjor.

Que bom falar bem de Maria Alcina, essa mineira de Cataguases, de voz forte e grave e de uma genialidade que poucas cantoras brasileiras são capazes de apresentar num repertório sem apelos e apelações. Pena que as gravadoras não perceberam essa pedra preciosa que nem precisava ser lapidada.

Inovadora, de vanguarda e ousada são algumas das identidades que podemos atribuir à ela que não precisa estar nas paradas de sucesso para colocar na vitrine seu novo disco, o CD “Confete e Serpentina”, álbum com onze faixas que acaba de chegar às lojas.

A explosão provocada em 1972 pela irreverente Maria Alcina ao arrebatar o primeiro lugar do Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, foi como um cometa riscando os seus do Brasil cheio de estrelas de generais. A carreira da artista foi interrompida pela ditadura militar ao ser processada por “comportamento subversivo” e afastada das televisões, rádios e estúdios.

E taí, vivinha da silva. Mais vanguarda do que nunca neste Brasil repetitivo e monótono em que vivemos. E Maria Alcina vem em boa companhia com esse trabalho produzido por Mauricio Bussab do grupo eletrônico Bojo, com o qual ela já tivera um grande encontro em 2003, que resultou no CD “Agora”. Ela tem uma trupe de fãs incondicionais como a banda Numismata, uma das fundadoras do estilo indie-samba, Felipe Julian da banda eletrônica Axial, Tatá Aeroplano e Ronei Jorge...entre outros.

É bom saber que “Confete e serpentina” não é um disco com marchinhas de carnaval, apenas a perfeita tradução de uma artista que sobreviveu aos massacres da censura, do tédio e da pobreza da música popular brasileira e seus falsos brilhantes, e que abre alas para o que ela é como artista: os brasileiros puro sangue, de pura alegria e sem caras e bocas impostas pela mídia interessada apenas em audiência para produtos de origem duvidosa, inclusive na música.