terça-feira, 14 de outubro de 2008

Faxina é um bom começo

As primeiras edições. Presente para a cidade. Ronald Junqueiro
Em São Paulo e no Rio de Janeiro o nível dos debates começou quente, mas se está alto ou baixo não vem ao caso para nós. Em Belém, começam a ser divulgadas as pesquisas para o segundo turno, mas falta debate. Com o tempo mais apertado, os candidatos têm que mostrar a que vieram até o dia 26, ou seja, restam doze dias para que o eleitor aperte os botões da urna eletrônica para confirmar quem é o próximo prefeito de Belém.

Os candidatos devem ter em mente que a estrela maior de um pleito é o eleitor, um indivíduo que foi amadurecendo ao longo da consolidação de uma democracia que ainda precisa ressuscitar e consolidar valores que não estão mais numa escala de espera da transição política, como o da abertura do país a um novo tempo, iniciado com o fim da ditadura militar. E lá se vão mais de duas décadas.

Será possível que candidatos a cargos eletivos não aprenderam que o eleitor não precisa mais ficar à frente da televisão ou concentrando-se na leitura de jornais apenas para ver lavagem de roupa suja? Os debates até agora parecem formatos de talk show, de pânico na TV, de programas de variedades escandalosos. Mas continuamos a cobrar a apresentação de projetos políticos de quem pleiteia assumir a administração da cidade. Aos candidatos cabe apresentar e defender esses projetos. Ressalve-se: projetos e não promessas recheadas de delírios faraônicos.
Belém precisa de um prefeito gestor, sem as vaidades políticas de cunho partidário ou pessoal. Nos tempos modernos as cidades dispensam governos personalistas a assinar em placas de inauguração benfeitorias como quem faz um rol de roupa na lavanderia. Gestão é aprendizado constante e gerado a partir da realidade vivida.

A Belém de hoje não é a Belém de Antônio Lemos. O que foi feito àquela época ficou. A cidade cresceu e o óbvio ululante é que com ela cresceram os problemas, muito mais que as soluções apresentadas até aqui, que foram poucas ou nada, ou que foram ignoradas por picuinhas partidárias ou postergada por não se enquadrarem ao modo do governante.

A ocupação da cidade, a destruição das áreas verdes, as invasões de terras urbanas sob condão político, o trânsito caótico que todos enfrentam diariamente num centro que não tem mais para onde crescer, o sistema de transporte público marcado pela precariedade do serviço, a falta de vias alternativas, o saneamento básico que não contempla toda a área urbana e um código de postura que o cidadão não conhece e que deveria conhecer são apenas pontas do iceberg.
Caminhamos por ruas mal cuidadas, por calçadas desniveladas, desviando de fachadas de residências que avançam o limite permitido para a construção e de tapumes que atrapalham o transeunte, por carros que estacionam em filas duplas, triplas, o que não ocorre apenas nas portas das escolas. Hoje isso acontece em frente a lojas comerciais e repartições públicas, em esquinas com semáforo, onde carros atrapalham a vida de motoristas que muitas vezes ficam presos no sinal verde porque um ou outro motorista decidiu estacionar ou parar para a descida de passageiros. Desordem e egoísmo andam de mãos dadas.

Prefeitos deveriam ser que nem boas donas de casa, muitas com jornadas exaustivas de trabalho e que são exemplos de administradoras. Cuidam da família, da casa, da alimentação, da educação, da saúde dos seus, até trabalham fora para sustentar e complementar a renda, planejam o orçamento e, por mais que durmam de consciência tranqüila, nem sempre o sono é recompensador, pois no dia seguinte começa tudo de novo, no café da manhã.

Prefeitos ideais não são deste ou daquele sexo, mas devem encarnar a alma empreendera, de liderança, de comando e organização que as boas donas de casa têm – e quando se fala em boas donas de casa, o título é para mulheres que são boas donas de casa, pois há exceção. No exemplo, não há feminismo ou machismo. Prefeitos são apenas prefeitos e podem ser bons ou maus gestores, mas têm que aprender que uma casa organizada começa pela a faxina. Logo, devem varrer a vaidade e a ambição política para fora da cidade, pelo bem público, arregaçar as mangas e trabalhar, trabalhar duro, para que Belém seja uma cidade que encha de orgulho seus habitantes. Esses, certamente reconhecerão o autor da faxina. (Público, 14 de outubro de 2008)


Belém ganhou um novo jornal. Desde o dia 5 de outubro está nas ruas o Público, que abre mercado de trabalho para jornalistas e profissionais de várias áreas e que é uma conquista para o segmento da comunicação, pois há anos o estado tem só dois jornais diários: O Liberal e o Diário do Pará. Brevemente, o Público estará na Internet.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rapaz, saí de Belém há quase 16 anos e parece que tudo continua como dantes... Em tempo: parabéns pelo Público, estou louca para ler na Internet! Beijão.