segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Oh, yes! Queremos banana

Musa de música, de teatro, de cinema, de feira e de supermercados a banana não é mais como antigamente. O produto, que era barato, virou vilão da cesta básica

Se vasculharmos com cuidado nossa memória de consumidor, em tempos de vacas magras ou de gordas vacas, nas altas e quedas das ações nas bolsas de valores, na gangorra do dólar que oscila para cima e para baixo nos tempos de hoje vamos constatar que a economia sempre regeu nossas vidas e, por mais complexo seja o economês, já ouvimos de avós, pais, tios e dos mais velhos, quando comparavam o custo de um produto em liquidação, uma frase exclamativa que foi devidamente sepultada no arquivo morto das lembranças: isso está a preço de banana!
E a comparação saía da mesa para alegria do felizardo comprador de um bem ou de um mimo. Na modista, por exemplo, para justificar os excessos ao marido, a jovem e vaidosa esposa descartava qualquer possibilidade de entrevero conjugal ao dizer que o vestido de baile da mais pura seda não custara quase nada, que a estilista lhe vendera o modelito a preço de banana.
E a metáfora econômica se aplicava a outros casos: a compra de um carro a preço de banana, o arremate da xepa no mercado, tudo a preço de banana e banana era fruta tão popular que era cantada em verso e prosa na música popular brasileira. Oh, Yes, tínhamos banana pra dar e vender. Banana, menina, tem vitamina, banana engorda e faz crescer. Tempos bons na versão do genial compositor carnavalesco Braguinha.
A vitaminada banana levada às telas do cinema americano por Carmem Miranda e para o teatro de revista pela inesquecível Leila Diniz não é mais a mesma, ou melhor, continua a mesma para o seu preço não.
A rainha do potássio foi uma das vilãs na mesa do paraense. Segundo o Dieese, o produto ficou 9,2% mais cara nas feiras e supermercados. E muito bem acompanhada por outros companheiros da cesta básica como o feijão que não é mais o feijão maravilha ao subir 7,02%, o leite, o açúcar, o tomate e a farinha de mandioca. Todos esses os produtos que fazem parte na nossa ração alimentar de cada dia contribuíram para que a cesta básica dos paraenses custasse, em outubro, R$ 195, 31, ou seja, 2,15% que roem o salário mínimo do trabalhador.
Enquanto as coberturas econômicas deitam e rolam na crise global, os bancos centrais abrem as torneiras do crédito para salvar outros bancos e segmentos industriais como o automobilístico; grupos se fortalecem nas fusões e tempos tormentosos são previstos para o novo presidente eleito pelos americanos, o paraense e os brasileiros seguem seu caminho, apesar dos pesares.
São coisas do mundo. Aqui, a notícia do dia foi aumento da cesta básica e na que seria a economia mais desenvolvida do mundo, a dos Estados Unidos, os jornais amanheceram dando um bom dia agourento para Barack Obama. O desemprego nos Estados Unidos atingiu no mês passado o seu nível mais alto desde março de 1994 e alcançou 6,5% da população economicamente ativa, de acordo com dados divulgados na sexta-feira pelo governo americano. O Departamento do Trabalho informou que 240 mil pessoas perderam seus empregos em outubro. Com certeza, Obama começa a provar a ressaca da festa da vitória. Ninguém pense que sua eleição irá resolver problemas estruturais num passe de mágica. O discurso conciliador e esperançoso do eleito ficou no desejo de melhorar o país, o que já estabelece uma boa distância entre o querer e o resolver.
No Brasil, o otimismo exagerado do presidente Lula já baixou a chama para moderada. Por certo sentiremos o efeito da tal crise mundial, mas ela não provocará quebradeiras no país como pregam alguns profetas aziagos em busca dos quinze segundos de fama. Não por isso, Lula deveria se agastar em discursos coléricos contra a oposição vazia. O presidente, se conselho serve para alguma coisa, deveria seguir tranqüilo, fazendo o que deve fazer que é governar o país sem preocupações menores altas e quedas do nível de popularidade. Até porque a preocupação do brasileiro está mais voltada para a mesa, onde deve estar o pão simbolizando o alimento.
É na mesa do brasileiro que está a crise e onde ele vai sentir o que não sabe explicar em distinto, culto e castiço economês.
Dos comuns mortais, o desejo é ter a velha banana de volta, não servir como parâmetro da pechincha, mas porque é alimento rico e sua inclusão no cardápio é recomendada por especialistas, depois que estudos constataram que o potássio na dieta alimentar, em especial para adultos e idosos, tem importante função muscular, inclusive para o coração.
(Público. 09.11.2008)

Um comentário:

Anônimo disse...

Yes, você voltou!!!!!!! E vitaminado! Beijo.