sábado, 26 de julho de 2008

Deu grampo na cabeça !

Grampo é grampo até prova em contrário. Ronald Junqueiro

Olho as manchetes dos jornais do dia com títulos garrafais sobre crimes do colarinho branco e já despertam os meus neurônios em estado de caótica anarquia. Acho que ainda são milhões de neurônios - até onde eu sei os coitados não se submeteram ao censo dos médicos neurologistas ou especialistas da área para uma contagem populacional. Essa ebulição toda segue um ritual: só acontece na leitura em jornal impresso. Se for jornal on line, os neurônios reagem lentamente, num quase estado letárgico, sob efeito hipnótico da tela de cristal líquido do computador. A notícia parece ser tão asséptica e imune aos vírus da rede!

Sentar à mesa do café da manhã com um jornal do lado é um rito de passagem. Um gole de café preto, uma mordida no pão com fibras que não tem gosto de nada, mas que disfarço passando de raspão uma geléia diet de amora - dica da nutróloga – e o olho já gruda na manchete da primeira página. Pingo leite no café. Mando ver na segunda fatia de pão. A primeira página, vitrine montada pelo editor, é como barraca de feira, tem que ser sortida. Inflação devora a cesta básica, o pãozinho não é o mesmo que o diabo amassou, mas está pela hora da morte nas metáforas domésticas que ressuscitamos a cada governo no seu ir e vir com direito ao voto que o elegeu... (Pausa)... É preciso adoçar do dia. Traço um iogurte, um suco e sempre deixo a fruta para encerrar essa travessia.

Leio as chamadas do esporte. O Paysandu, meu time foi pra Bacabal, interior do Maranhão, a 700 quilômetros de Belém, de ônibus. A gente nem imagina o tamanho do Brasil e as distâncias que nos separam. O Papão da Curuzu precisa só de um empate para assegurar sua vaga na próxima fase da série C. Mas isso é notícia que interessa mais aos torcedores alvi-azul. Para o Brasil, penso, o que interessa é a alegria do Ronaldinho e a barriga do Ronaldão.

Pooorrraaa! E há quem diga que não existe inferno astral. Eu também não creio em bruxas, mas que elas existem, ah! Elas existem!

Passo os olhos pelas coisas da política, da economia, das notícias e agenda do caderno de cultura. Mais uma pausa, agora para o mix de fibras – leite de soja, farelo e gérmen de trigo, linhaça, aveia, gergelim, frutas variadas. Preciso me vitaminar para as chamadas policiais. Infanticídios, estupros, assaltos, tiroteios, bandido morto, desta vez um tal de Alexandre, o Gordo. Corpo estendido no chão. A crônica policial é tão cheia de historinhas absurdas. Nem todos conseguem escapar.

Outro dia li uma notícia que me deixa desconfiar das tramas do destino. Um bandido do qual nem me lembro do nome, durante muito tempo conseguia se dar bem nos pequenos assaltos para arranjar uns trocados. Não era um assalto a banco ou lavagem de dinheiro, era coisa que não ia muito além de arrebatar o celular, uma bicicleta e até botijão de gás. Mas o meliante teve que encarar a ordem do dia e na tentativa de driblar a polícia foi derrubado com um tiro na perna. No boletim de ocorrência, além do nome, ficou o registrado o apelido, a alcunha. Se fosse crime virtual ele teria um nickname, com certeza, tudo seria mais chic. Pois bem, o tal Fulano de tal, era popularmente conhecido como “Fuga”. Quase um clássico.

Assim, na verdade, é a vida, e devemos cruzar os dedos para que a tragédia, em sua plenitude, não nos bata à porta e nem nos assalte nas ruas da cidade.

Para não fugir do assunto, sobram os atentados terroristas, a repercussão do barraco do Barack Obama em Berlim falando de muros e afins. A fronteira com o México permanece para a alegria dos coyotes. Hugo Chávez e Zapatero superam a briga conjugal do poder, ao olhar risonho do rei Juan Carlos. O Lulinha ex-paz e amor fica em banho-maria. Parabéns a Louise Brown pelos 30 anos, a primeira balzaquiana de proveta.

A manchetinha do dia, que parece nem nos atingir como bala perdida, mas que pesa pra muita gente sem o suporte das não tão novas tecnologias: depois da greve dos correios, cartas sobem 17,6 %.

Não recebo cartas há tanto tempo, minha língua perdeu o gosto pela cola, minha letra é um garrancho, só sei digitar e-mails... Mas essa é outra história...Termino o café e acordo pro dia nascer feliz.

No supermercado, algumas horas depois, comprei uma caixa de grampos. Avisos na embalagem: pontas arredondadas para maior segurança. Composição: aço. Produto não perecível. Validade indeterminada. Cartela com 50 grampos no. 5. Preto.

Os neurônios, em estado de excitação incontrolável, provocam tornados cerebrais. Em coro, eles pedem que eu defenda o tombamento dos grampos como patrimônio material do país. Que coisa inconcebível!

Grampo é simples objeto, mas cutuca minhas lembranças, das mulheres da família com os cabelos presos com grampos e arranjos de grampos, como se a cabeça se transformasse em uma instalação artística capaz de levar multidões às bienais. Não sei quem ficou com as fotos antigas.

E não têm o glamour dos brilhantes atracadores de cabelo, xuxas e piranhas coloridas. Mas que se lhes faça justiça. Grampo é grampo. Outra coisa é o Brasil traduzido por José Múcio, ministro das relações institucionais na frase da semana: “O meu telefone é uma rádio comunitária, de maneira que nem faço varredura mais”.

Penso que o caso não é de varredura, mas de faxina pesada para nos livar do lixo. No mais, vivemos a era da grampofobia.

8 comentários:

Cassius Martins disse...

Cara,adoro seu blog,me indentifico muito com seus textos!!!
Abraço!!!

Anônimo disse...

Quem te deu o direito de me desiludir dessa forma? Papão, tu? Ó Cristo, ninguém é perfeito mesmo... No mais: invejei esse teu café da manhã, não só pelo nutritivo que é, mas pelo tranqüilo que me parece... Mesmo bombardeado com todas as chamadas de primeira, que tantas vezes fizemos juntos. E adorei os grampos, acabaram por me lembrar dos bobes... Beijo.

Anônimo disse...

Também estou ficando assídua aqui...e fã.
Gostei muito deste texto, parabéns! Também fiquei com inveja do café da manhã... rs.
Bjs, uma ótima semana!

Anônimo disse...

Como sempre um post de qualidade.
Você já faz parte dos meus favoritos.
Vai lá no meu blog conhecer minha cidade um pouquinho mais de perto, mas cuidado para não se apaixonar, rsrsrsrssssss.
Grande abraço!

nadia disse...

Ronald,

Parabéns pelo blog. Os textos estão ótimo! Cheios de imaginação e estilo. Vou virar frequentadora assídua.

beijos,

Unknown disse...

Obrigado a todos pela visita!...Que responsa, hein!!!

Anônimo disse...

BOM MESMO, PENA QUE DEMOREI PARA VER O SEU BLOG, CONTINUE ASSIM. VOCÊ TEM UMA COLETÂNEA DE ARTISTAS DE PRIMERÍSSIMA QUALIDADE, UM TRABALHO MARAVILHOSO...NOTA MIL. aBRAÇOS LUZIACABRAL2008.

Anônimo disse...

Que bom que vieste, Luzia. Ainda fico por aqui algum tempo...bjks