quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Viva o povo brasileiro!!!

A propaganda eleitoral está abaixo da linha do aceitável. Fala-se em renovação de bancadas, mas o nível é sofrível. Tanto dos que tentam reeleição como os que querem estrear no plenário da Câmara Municipal. O desfile de nomes, apelidos e currículos não serve nem para escolha de conselho comunitário.

Não há qualidade nem qualificação, é visivel a falta de consciência cívica e de vocação para a coisa pública, o discurso é velho, empoeirado, mumificado, o grau de escolaridade beira o desastre do preparo intelectual necessário para que o candidato saiba que não se escreve caXorro com “Xis”.

De repente entra na telinha um Júnior Metralha, que se diz conhecido nas comunidades tal e tal e que vai virar mundos e fundos para melhora a vida dos pobres.

Depois vem o Gege, que com um performático ar de galã diz com todas as letras que é um homem de baixa estatura mas que é nos pequenos frascos que estão guardados os grandes perfumes. Dou a cara a tapa se ele viu algum dia um frasco de Channel no. 5 – não que isso faça a diferença para melhor ou pior na questão do caráter ou da competência, valores que jamais serão medidos por uma gota de perfume. Mas pela ignorância ou cinismo da falta de um projeto político. Pior: o homem de baixa estatura, na verdade, não chega à altura do baixinho da cerveja. E na verdade um anão. Condição que não o impediria de ser um grande homem.

Aliás, a política brasileira é cheia de anões que, espertos, tiraram a Branca de Neve de cena e deram-lhes pequenos cargos de secretária, amantes, casos, cachos, acompanhantes e modelitos de capa da Playboy. Com direito a noite de autógrafos, ora veja! Nenhuma é Cecília Meireles, Raquel de Queiroz, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Adélia Prado...

Não podemos esquecer que temos o nosso lado – e lona – de Circo.

Juro que não acredito que candidatos formados na USP, PUC, FGV, Yale, Oxford, Universidade Livre de Berlim e outras instituições sejam fórmula de sucesso quanto à gestão pública. Vide Mangabeira Unger e seu sotaque bizarro. Ele entende mais de Central Park de NY do que de floresta amazônica.

Acho também que nossos medalhões não disputariam cargo municipal, que deve ser muito pouco para quem tem uma parede cravejada de títulos de excelência de doutor disso ou daquilo.

Penso ainda que essa turm iluminada não tem perfil olímpico para fazer caminhadas diárias que os candidatos a prefeitos fazere nesse periodo de campanha. Andam ou se arrastam que nem pagador de promessa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

No mais, estariam a milhas de distância da realidade vivida por Metralha e Gege, só a título de ilustração. Aposto que num caso e no outro, a catástrofe seria inevitável. Nem mesmo Lulinha pode servir de modelo, se bem que ele abriu as portas para a democratização dos que acham que banco de escola não dá camisa a ninguém. E essa tese é domínio público, virou conversa de esquina e de mesa de bar. É tipo sonho de garoto pobre que quer jogar no Milan, no Barcelona, no Chelsea ou no Werder Bremen.

A história brasileira é uma comédia com libreto de ópera bufa. Mais um espetáculo para picadeiro e para palco italiano. Não nos faltarão maestros.

Quem lembra o ex-cacique xavante Mario Juruna, único índio brasileiro a pisar no Congresso como deputado federal (1983_87)? Ele teve seus minutos de fama por andar com um gravador, em Brasília, para gravar as promessas feitas pelos políticos para as reivindicações indígenas. Juruna achava que eram promessa mentirosas. Tinha ou não razão? Qualquer dia vão dizer que o índio inspirou a Polícia Federal e a Abin a usar grampos. Só que índio não gravava nada às escondidas.

Mário Juruna entrou para o anedotário político – melhor isso do que entrar para os anais – como coisa exótica, de um país dado ao exotismo e mesmo a mídia apresentou-o muitas vezes de maneira chistosa. Mas ele ficou famoso mundialmente, em 1980, ao ser delegado dos índios do Brasil no Quarto Tribunal Bertrand Russel, realizado na Holanda.

Juruna tinha uma qualidade que falta a muito político e candidato de hoje, tinha alma de Fernando Pessoa quando este escrevia poemas como Alberto Caieiro que sabia não ser o Tejo o rio que corria por sua aldeia, mas amava o rio que passava por sua aldeia. Juruna conhecia seu rio e aldeia, seu universo e seu infinito particular. Primeiro vinha à Brasília para pedir roupas e calçados para seu povo, depois viu que isso era tão pouco, que a ameaça sofrida pelas nações indígenas era bem maior, era ameaça de extermínio.

A história de Mario Juruna é tão triste quanto a de Policarpo Quaresma, o brasileiro personagem do mulato Lima Barreto, outro escritor genial e maldito da terra brasilis. Jurunas morreu em 2002, no Distrito Federal, longe da sua aldeia, por complicações renais e um princípio de pneumomia. Parece praga de banco: ele sofria de diabetes e hipertensão.

Viva Carlos Gomes! E Villa Lobos! E o povo Brasileiro!

Fico imaginando eleitor atrás do biombo, aparvalhado diante da urna eletrônica, com as opções “Branco”, “Corrige” e “Confirma”. Digita os números e na hora de finalizar a escolha, chama o mesário, faz escândalo, quer exercer o direito de cidadão mas se sente boicotado, fraudado pois não encontrou entre os botões a quarta opção. E resolve anular o voto. Ninguém entende porque tanto piti. Fácil, né? O eleitor explica aos jornalistas de plantão:

- Todo dia aparecia candidato prometendo mundos e fundos, que ia dar abrigo para que passageiros se protegessem da chuva e do sol, queria um voto de confiança...mas acho que a urna que colocaram na minha seção é jurássica. Procurei é não encontrei o botão “voto de confiança”....ora, depois disso, em quem eu poderia votar?

Cai o pano.

3 comentários:

Anônimo disse...

O horário eleitoral é um verdadeiro programa humorístico, infelizmente.
Abraços

Anônimo disse...

Na hora de votar, devemos pensar em quem votar ou nao votar?

Melhor escolher o menos pior, pois votar nulo é mesmo que pedir o pior!

abs!

Anônimo disse...

Imagine só o que sofro ouvindo a kombi do Maluf pelas ruas, com um alto-falante ribombante, dizendo que nunca houve prefeito como ele... É duro, amigo, é duro...