A gente sempre está com muita pressa. Todos os dias nós percorremos trajetos que nos levam daqui para outro ponto como o coração e a mente funcionando no piloto automático. Até quando essa rota é interrompida temporariamente – às vezes a interrupção é fatal para muitos.
As ruas colecionam crônicas, a maioria povoada por anônimos, que podem sair na primeira página e ser manchete em outros cadernos do jornal. É a crônica policial que mais se multiplica. A primeira semana de agosto veio como onda forte, daquelas que arrastam tudo o está a sua frente.
No cruzamento das ruas há vida e morte. A tragédia do dia a dia é tão comum como dar nó no cadarço para firmar os sapatos. Isso não evita o passo em falso.
Atenção, ao dobrar uma esquina. Atenção, tudo é perigoso. Bem antes da Tropicália.
A foto revela o perigo iminente, constante, quase inevitável. Um dia antes, um homem foi atropelado e teve fraturas múltiplas neste trecho da Avenida Pedro Miranda com a travessa Mauriti. Ele calculou mal a travessia da rua fora da faixa de segurança e foi colhido por um carro de passeio. Para sorte do pedestre o motorista não dirigia em alta velocidade.
No dia seguinte, parei no mesmo cruzamento, pois havia uma batida violenta e a perícia do Departamento de Trânsito atrapalhava o percurso de quem ia do lado direito da pista central, que é de mão dupla.
Na foto, do lado esquerdo da pista central por onde o tráfego continuava, via-se outro retrato do quanto a cidade é um caos. O semáforo muda para o verde, um ciclista e um carroceiro fazem um desvio para seguir adiante. Mas lá no fundo, no mesmo lado da pista, um cadeirante disputa espaço no trânsito. Cadeira de rodas virou veículo. Que loucura! A cidade não foi preparada para os cidadãos. Isso é uma merda quando a gente briga todos os dias para ter o que muitos defendem, mas que é privilégio de poucos: a cidadania.
Enquanto isso, no Senado, a baixaria corre solta. Senadores se intitulam cidadãos de primeira categoria, mas o teatro, no plenário, é uma produção das mais baratas na qualidade dos que representam seus papéis: políticos incultos, dromedários, de ínfima categoria e que arrotam serem representantes legítimos de um país que eles nem prezam.
Fora Sarney! Fora Collor! Fora Renan e toda a camarilha governistas que estão cagando e andando para urna eletrônica que deu a eles assento no Congresso Nacional. Na verdade, eles merecem um penico como troféu para depositar a merda retirada da cabeça de cada um deles, pois eles são também os responsáveis pela cagada que está emporcalhando o Brasil.
Pizza da sexta-feira: O presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), arquivou as sete últimas denúncias por falta de decoro parlamentar contra o presidente da instituição, José Sarney (PMDB-AP), enviadas ao órgão por partidos e parlamentares.
sábado, 8 de agosto de 2009
Brasil, o império das cagadas
sábado, 1 de agosto de 2009
Almofadas vermelhas ao sol
Hugo Chávez roda a chave da censura para fechar a boca do povo. Cancelou a licença de 34 emissoras de rádio e ameaça tirar do ar outras 200, em meio a uma campanha para acabar com o que chama de "abuso" da liberdade de expressão.
Chávez não passa de um presidente bundão. Os venezuelanos deveriam sentá-lo numa chapa quente. O poder não pode intimidar o povo.
Cá no Brasil, a família Sarney precisa entender que censura não vai funcionar para esconder o caldo da lavagem de roupa suja no Senado. A Justiça proibiu o jornal O Estado de S. Paulo de publicar reportagens sobre a investigação da Polícia Federal contra Fernando Sarney, filhinho de papai. Medidas escrotas como a que foi adotada pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, não limparão a merda feita pelo senador José Sarney (PMDB-AP) - pai do Fernandinho - mergulhado em denúncias de nepotismo, envolvimento em atos secretos e desvio de verbas da Petrobras.
Sarney não aprendeu nenhuma lição de democracia.
O Lula, presidente gogó de ouro, malandramente, deixou de defender o senador-escritor maranhense “Marimbondo José Sarney de fogo”. Aliás, falta ao nosso presidente doses homeopáticas de simancol. Como o poder lhe subiu à cabeça! Mesmo assim, vermelho que nem ele, podemos dizer que Lula amarelou.
Vejamos o que mais o sábado nos trouxe:
Meninas baleadas num morro do Rio de Janeiro e assassinatos em Belém do Pará.
Milhares de poloneses celebraram os 65 anos da revolta de Varsóvia contra a ocupação alemã. As comemorações contaram com a presença de inúmeros veteranos de guerra. A insurreição de 1944 foi uma tentativa de instaurar o poder em Varsóvia antes da chegada das tropas soviéticas. Os festejos da revolta só foram oficializados a partir de 1989, o ano da queda do regime comunista. Nesse episódio da Segunda Guerra Mundial morreram 18.000 combatentes poloneses, 17.000 soldados nazistas e 200.000 civis.
A vida vale muito. Não pode ser encarada como o que nos resta.
Em Amsterdã pela primeira vez, policiais e soldados do exército holandês juntaram-se aos desfiles da parada Gay usando as fardas. Durante o evento foi celebrado. A Holanda é um país pioneiro nas questões de defesa dos direitos homossexuais. Em 2001 tornou-se na primeira nação do mundo a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Já em Portugal, o Tribunal Constitucional rejeitou o direito ao casamento entre duas mulheres. Teresa e Helena vão recorrer da sentença junto ao tribunal europeu dos direitos humanos.
Filipinos emocionados com a morte de Corazon Aquino, a mulher que derrubou a ditadura de Ferdinando Marcos e de Imelda Marcos, conhecida como a mulher dos 3.000 pares de sapatos. Eles dominaram, por 21 anos, o império do nepotismo.
Cory , como era conhecida Corazon, não pode ser esquecida.
O desmatamento na rodovia Santarém-Cuiabá está fora de controle. Segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (30) pelo Imazon (Instituto do Homem e meio Ambiente da Amazônia), a área desmatada, equivalente a 60 vezes o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, foi destruída nas margens da rodovia BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA).
Apenas três municípios paraenses, próximos a essa estrada, concentraram 95,1 km² de florestas derrubadas.
Enquanto isso, deixo as almofadas ao sol para matar os ácaros. Almofadas vermelhas ao sol
Flagrante da cidade em julho.

domingo, 26 de julho de 2009
Das loucuras do trânsito nem santo escapa
O trânsito em Belém é caótico e violento. E incha a olhos vistos. Quem dirige tem que pedir a proteção de todos os santos, incluindo aí os padroeiros e os santos guerreiros, como São Jorge. E nem ele mesmo escapou dessa batida na traseira. Com certeza, para o Santo é muito mais fácil lutar contra o dragão do que contra motoristas malucos que, com as bênçãos da isenção do IPI, invadem as ruas da cidade e viram armas potenciais a ameaçar a vida de todo mundo.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Economia em alta e moral barata
Lula disse - há mais ou menos um mês, lá no Cazaquistão - estar preocupado com o que classifica como “política de denuncismo”.
Na verdade, isso indica que alguma coisa está fora da ordem.
O Brasil pode ir bem das pernas na economia, mas vai mal na moral.
No comando do país falta a palavra como ato de liderança e não como destempero e incontinência.
Aqui andam falando muita merda, cobras e lagartos. A turma da política, do planalto à planície, trata o ouvido do cidadão como se fosse penico, a começar pelo presidente.
Pelo jeito, a descarga está nas mãos erradas. O cidadão (claro que falo no cidadão de bem!) deve ser o dono da higienização, logo... é o dono da história. O resto é figuração.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
África em nós

sábado, 11 de julho de 2009
A inteligência anfíbia que nos falta

Aninga – (Montrichardia arborescens) Espécie da família das Araceae, anfíbia. Medicinal (expectorante e cicatrizante). Servem de alimento e refúgio de peixes, répteis e mamíferos A seiva contém produtos irritantes da pele que causam dermatites. Ornamental.
Fotografei apenas um detalhe, no início da tarde, sol a pino do verão que tomou conta da cidade.
A aninga verde escura banhando-se nas águas barrentas do rio Guamá. É uma visão poética. E real. E quem disse que a realidade não pode ser expressão poética? Pelo menos contemplativamente?
sábado, 4 de julho de 2009
domingo, 29 de março de 2009
Dias de chuva, dias ensolarados
domingo, 15 de março de 2009
Maria Alcina, maravilha do Brasil
Imperdível!
Se vale a indicação vá a uma loja de disco ou compre pela internet o novo disco da Maria Alcina. É isso, falo daquela que fez o Maracanãzinho vir a baixo jogando pra galera “Fio Maravilha”, de Jorge Benjor.
Que bom falar bem de Maria Alcina, essa mineira de Cataguases, de voz forte e grave e de uma genialidade que poucas cantoras brasileiras são capazes de apresentar num repertório sem apelos e apelações. Pena que as gravadoras não perceberam essa pedra preciosa que nem precisava ser lapidada.
Inovadora, de vanguarda e ousada são algumas das identidades que podemos atribuir à ela que não precisa estar nas paradas de sucesso para colocar na vitrine seu novo disco, o CD “Confete e Serpentina”, álbum com onze faixas que acaba de chegar às lojas.
A explosão provocada em 1972 pela irreverente Maria Alcina ao arrebatar o primeiro lugar do Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, foi como um cometa riscando os seus do Brasil cheio de estrelas de generais. A carreira da artista foi interrompida pela ditadura militar ao ser processada por “comportamento subversivo” e afastada das televisões, rádios e estúdios.
E taí, vivinha da silva. Mais vanguarda do que nunca neste Brasil repetitivo e monótono em que vivemos. E Maria Alcina vem em boa companhia com esse trabalho produzido por Mauricio Bussab do grupo eletrônico Bojo, com o qual ela já tivera um grande encontro em 2003, que resultou no CD “Agora”. Ela tem uma trupe de fãs incondicionais como a banda Numismata, uma das fundadoras do estilo indie-samba, Felipe Julian da banda eletrônica Axial, Tatá Aeroplano e Ronei Jorge...entre outros.
É bom saber que “Confete e serpentina” não é um disco com marchinhas de carnaval, apenas a perfeita tradução de uma artista que sobreviveu aos massacres da censura, do tédio e da pobreza da música popular brasileira e seus falsos brilhantes, e que abre alas para o que ela é como artista: os brasileiros puro sangue, de pura alegria e sem caras e bocas impostas pela mídia interessada apenas em audiência para produtos de origem duvidosa, inclusive na música.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Cultura e civilização
Inverno. Chuva. Maré cheia. Total cumplicidade com o nada a fazer. Som das ondas e da chuva que escorre pela calha e cai no pátio que dá para o imenso rio pontilhado de ilhas ao longe e navios imóveis.
Lembro uma música de Gilberto Gil. Rolam os versos na mente preguiçosa: "A cultura e a civilização, elas que se danem. Ou não"... Era voz de Gal Costa. A Tropicália passou com seu verdeamarelo exaltado, aquarela de outros tempos, hoje esmaecida e manchada pela umidade. Como qualquer espírito de época.
Mosqueiro fica a mais ou menos 70 km de Belém. A ilha não perdeu o bucolismo, mas já não tem mais a poesia de trapiche depois que construiram a ponte, ligando-a ao continente. Está sob ameaça de extinção, o verde desaparece na onda de invasões que proliferam na ilha. O olhar paradisíaco é ilusão. O futuro é a lembrança ou o fragmento.
Capturei na fotografia um átimo da realidade, a vila onde fico hospedado. Deixei a cidade num fim de semana e na sala do apartamento uma pilha de livros para limpar com uma mistura antibactericida, antiácaro, antifúngica. Dá um desânimo enooooorme, essa faxina!
Isso já dura uma semana. Pego um livro, limpo a capa, as orelhas e já fico aprisionado numa leitura ligeira, que se gruda na memória, que grita pelos personagens que estavam sufocados na estante. Capas encardidas, folhas que se vão amarelando, títulos que o tempo apaga das lombadas, histórias que atravessam os séculos - gente teimosa que saiu desse tempo que já nem nos damos conta, pois assim são os autores e suas criaturas, todos tem alma imortal ou se iludem com essa certeza que está mais em nós do que neles.
Faxina não é coisa simples como jogar poeira sob o tapete, recolher frascos vazios de shampoos e tranquilizantes para jogá-los na lixeira, restos de festa, notas de supermercado ou da farmácia...
Fui cheio de vontade para me livrar de uma pilha de jornais antigos, velhos encartes e aí deparo com uma entrevista do Daniel Cohn-Bendit, anarquista que liderou o movimento estudantil de 1968, em Paris. Ele deu uma entrevista sobre os 20 anos do movimento que se espalhou pela Europa, ao jornalista brasileiro Geneton Moraes Netto, publicada no caderno 'Idéias', do Jornal do Brasil, no dia 7 de maio de 1988. A matéria é uma viagem a um tempo que não fazia parte da minha realidade aqui na Amazônia, esse cantão esquecido lá nessas eras e ainda hoje, quando vemos que ela é apenas uma marca que está na lista das coisas em extinção.
"Ainda há causas dignas de barricada"
O título da entrevista me chama a atenção, revira meu tempo, minha memória, minhas relações. Um movimento muito íntimo e pessoal. Não sei dizer, de bate pronto, quais seriam minhas causas e palavras de ordem como se podiam ler nas pichações em Paris, em maio de 1968.
"Professores, vocês nos fazem envelhecer!"
"Corra, camarada, o velho mundo está atrás de você".
"A sociedade é uma planta carnívora!"
Mas acho que há, sim, causas dignas para erguermos barricadas. Cada um de nós pode eleger seus motivos e talvez eles se encontrem em movimentos coletivos. E aí os pares se juntam e então formam multidões capazes de alterar ordens estabelecidas por interesses escusos.
A chuva me embala, o barulhinho da maré me entorpece sem a cor ressaltada pelos dias de verão. Há um cinza pacificador. Não quero tornar meus pensamentos sérios demais. Mas sei que não vou jogar fora o encarte com a entrevista de Daniel Cohn-Bendit, hoje um deputado do parlamento europeu pelo Partido Verde da Alemanha e que tem até página na internet. Vivemos outros tempos. Preciso descobrir meus motivos para manter minhas barricadas.
"A cultura e a civilizaçao, elas que se danem... ou não... eu gosto mesmo é de comer com coentro...eu gosto mesmo é de ficar por dentro..."
Decididamente, não vou jogar Madame Bovary no conteiner de lixo, nem que Flaubert me implorasse... podem tirar o cavalinho da chuva, porque eu mesmo vou ali tomar um banho de chuva...Há coisas definitivas.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Por um mundo melhor
Uma história comoveu muita gente que assistiu televisão na véspera de Natal. A recém-nascida Luiza Victória, nascida há quatro meses com 430 g e 26 cm, recebeu alta da Unidade de Tratamento Intensivo de um hospital do Rio de Janeiro e voltou para os braços da mãe. Uma roupa vermelha e um gorrinho de Papai Noel, a menina, com pouco mais de dois quilos e com 46 cm é o que se pode chamar de milagre da vida. Essa época nos revela histórias assim que se juntam a outras crônicas natalinas, como a própria história do nascimento de Jesus.
O dom da vida deve ser celebrado todos os dias. O valor da vida deve ser reconhecido em cada amanhecer e em cada anoitecer. É a grande lição que devemos guardar de cada dezembro, feito de festas e alegrias que deveria ser a mesma para todas as pessoas. Na festa da mesa mais rica ou na mesa menos farta. Foi um ano difícil para muitos? Vamos começar nova jornada logo ali, em janeiro. A vida continua. E representa também o milagre que constitui a própria vida.
Mas o Natal não foi apenas festa.
No Médio Oriente, o Natal fica marcado pelo recrudescimento da violência israelense-palestina. O noticiário das útimas vinte e quatro horas mostra o conflito armado nessa região. O secretário-geral da ONU apelou à calma na Faixa de Gaza. Ban Ki-Moon pediu a Tel Aviv que abra as passagens fronteiriças para permitir a entrada de ajuda humanitária no território palestiniano e apelou ao movimento islâmico para acabar com os ataques de “rockets” sobre Israel.
Durante uma celebração do Hanukkah judaico, o presidente israelita Shimon Peres dizia que “se a população de Gaza quer viver em paz e quer ter passagens livres, só há uma coisa simples a fazer: por fim aos disparos”. O bombardeio aéreo israelita aconteceu no fim de um dia particularmente violento na fronteira israelense-palestina. Mas, nas últimas vinte e quatro horas caíram cerca de cem “rockets” palestinianos em localidades israelitas próximas da fronteira com Gaza.
A guerra não respeita celebrações à vida. Todos os anos repete-se a violência na faixa de Gaza como a coisa mais normal do mundo. Todos os anos, a violência nessa região é parte dos apelos pela paz feitos pela Igreja Católica. O Papa Bento XVI pediu em sua tradicional benção urbi et orbi à paz no Médio Oriente, no balcão da Basilica da Praça de S. Pedro, no Vaticano. Perante milhares de fiéis, o chefe da igreja católica desejou um apaziguamento nas relações entre israelitas e palestinianos e apelou à paz no Iraque e no Líbano. O Papa dirigiu mensagens de paz, também, à África e pediu a estabilidade para o Congo, a Somália, o Darfur e o Sudão. Antes de proferir a benção em 64 línguas, mais uma que o ano passado, o Papa lançou um apelo à solidariedade frente a um “futuro cada vez mais incerto”, num Natal que fica marcado pela crise financeira e econômica mundial. E pelo recrudecimento da violência no mundo.
A banalização da violência em grande escala nos territórios conflagrados mantém o mesmo ímpeto em territórios onde não há guerra. Nos centros urbanos a vida é tratada da mesma forma, seja no Brasil ou outro país qualquer. E as motivações são várias.
Em Moscou, a polícia russa investiga dois ataques violentos contra violinistas da orquestra Virtuosi de Moscovo. Um deles foi hospitalizado com uma fratura no crânio, depois de ser atacado por um grupo de desconhecidos que lhe roubaram um violino. O outro, de origem coreana, foi esfaqueado e sofreu vários cortes nas mãos. O diretor da orquestra disse que esse ataque teve certamente “motivações raciais”. Nos últimos anos, têm aumentado os episódios de violência contra pessoas de origem asiática ou africana em Moscou. Mas a polícia não descarta nem uma rivalidade entre grupos musicais da cidade.
Num subúrbio de Los Angeles, nos Estados Unidos, um homem vestido de Papai Noel abriu fogo em uma festa, na véspera da noite de Natal. Pelo menos três pessoas morreram.
Em Jandira, na Grande São Paulo, um casal foi preso, na quarta-feira, por suspeita de assassinar a facadas uma menina de 8 anos. De acordo com a Polícia Civil, o padrasto, de 25 anos, e a mãe da vítima, de 28, mataram a criança porque ela estaria atrapalhando o relacionamento dos dois.
Em Belém do Pará, a violência se multiplicou na onda de assaltos, com cenas de tiroteio e linchamento. Ocorrências que nem precisam de detalhes, tanto se repetem na cidade que acabam engrossando a pilha de boletins policiais.
Esse é o nosso mundo. Mas não por isso, não por toda desordem e desproteção podemos desistir dele.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Muitos planos e pouca saúde

Envelhecer no Brasil não é para qualquer um. Ou a pessoa nasceu em berço esplêndido ou foi favorecido pela sorte e articulações aqui e acolá para superar a pobreza como alguns jogadores de futebol, artistas nem sempre talentosos, mas que com um bom marketing conquistam o mercado – na verdade são mais empreendedores do que artistas – e, como nos mostra a história do País, investir na carreira política, que hoje não é mais apenas uma questão de vocação, mas uma saída para dias melhores que virão.
Envelhecer com dignidade no Brasil é comer o pão que o diabo amassou, perder a qualidade de vida que se foi junto com a tranqüilidade de uma aposentadoria decente, de saúde garantida, casa, comida e paz de espírito.
Mas paga-se um preço muito alto para envelhecer no Brasil, como é o caso dos planos de saúde. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) analisou planos de referência das 16 principais operadoras de planos de saúde do País e constatou uma série de irregularidades e de práticas discriminatórias que, segundo a entidade, tornam inviável o acesso e a permanência de idosos nos serviços de saúde suplementar. O reajuste por faixa etária pode chegar a 104% quando o consumidor atinge os 59 anos, índice muito superior ao verificado nas demais faixas etárias.
A advogada do Idec, entrevistadas pela televisão e jornais resume essa ópera com uma declaração contundente e dolorosa: “As regras existentes hoje não são suficientes para impedir que o idoso seja expulso do plano de saúde após contribuir por muitos anos, pois fica muito caro manter o plano”.
Quem se recorda dessa frase bordada pelo otimismo presidencial?
“Eu acho que não está longe da gente a atingir a perfeição no tratamento de saúde neste país”.
A declaração foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 19 de Abril do ano passado, em Porto Alegre, ao inaugurar as novas instalações da emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Mais de um ano atrás.
Se a saúde pública chegou ao nível do atendimento público de países de primeiro mundo, é coisa a conferir. Mas num País como nosso, onde o plano de saúde cria a ilusão de que estamos bem mais seguros, diante da pesquisa divulgada pelo Idec, resta-nos a frustração e a tristeza que, convenhamos, nem o mais alto índice de aprovação presidencial, já alardeado como recorde histórico, consegue desfazer. Que o governo chegue às nuvens e que nosso presidente vocifere contra os pessimistas pelo direito à liberdade de expressão que lhe cabe, mas que saiba que envelhecer neste país é um desafio superado por poucos.
Segundo a pesquisa, um idoso cuja renda fosse de um salário mínimo gastaria 80% desse valor, em média, apenas para manter o benefício. Além do “agressivo preço cobrado”, a entidade aponta problemas como carências excessivas, planos que de forma ilegal não abrangem assistência ao idoso e até mesmo desestímulo a que os corretores vendam planos a maiores de 59 anos. E pensar que a população está envelhecendo previsivelmente no País é projetar o drama a ser enfrentado por quem está à beira dos 60 e sem uma aposentadoria digna. Na verdade, uma aposentadoria que nunca será bem vinda para a maioria dos brasileiros, pois significa jogar mais um no bolsão da pobreza. Isso não é pessimismo. Ao contrário, é de um realismo ponteagudo, desses que não conseguem a disfarçar a dor de quem é cutucado por uma adaga.
Ontem, a declaração de uma senhora aposentada num telejornal traduz exatamente drama que é envelhecer no Brasil. Com o pagamento do plano de saúde dessa aposentada de salário mínimo, o que lhe sobra na hora de sacar o benefício (podemos considerar a aposentadoria um benefício?) são mais ou menos R$ 190,00 reais. E ela perguntava: “Dá pra viver com R$ 190,00?”. Não fossem a ajuda dos filhos e de pessoas caridosas que lhes conhecem as dificuldades de aposentada, a vida dessa senhora seria mais uma entre milhões de miseráveis vidas que nem conseguem ter acesso a um plano de saúde privado.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) permita reajustes por mudança de idade do segurado, esse índice não pode ser superior a 500% entre a 1ª faixa etária (0 a 18 anos) e a 10ª e última faixa (59 anos ou mais). A ANS determina ainda que a variação acumulada entre a 7ª (44 a 48 anos) e a 10ª faixas não seja superior à aplicada entre a 1ª e a 7ª. Mas a pesquisa verificou que algumas empresas desrespeitam essas regras da ANS, aplicando reajustes superiores a 500% e concentrando os maiores índices nas faixas etárias mais avançadas.
Nunca na história deste Pais, envelhecer foi tão difícil quanto é hoje. Para todos nós, o caminho é irreversível. Para muitos poucos, a irreversibilidade do tempo pode ser amenizada por suporte material e financeiro. Mas envelhecer é negócio para muito, os que levam vantagem por cada ruga que pode ser transformada em cifrão. E nessa hora, sifu o cidadão.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Corruptos devem cair
Num País tão grande como o Brasil, muitas coisas se realizam com a mesma grandiosidade, seja gravitando ao redor do poder constituído ou de outros segmentos de reconhecida importância econômica e financeira, aqui citado apenas a título de ilustração. Comparativamente, essa grandiosidade territorial abriga outras que, como prática, são condenáveis a olho nu, independente de decisões judiciais.
Tão grande quanto o País são a corrupção e a impunidade que passeiam de mãos dadas com a conivência de uma fileira de interessados em que essa dobradinha continue enchendo cofres e alimentando o poder.
O Brasileiro gosta desse estado de coisa? Fechamos os olhos por indiferença ou conveniência? Para quem acredita em pesquisas, a que foi feita pelo Ibope no primeiro semestre deste ano afirma que a maioria dos brasileiros condena a corrupção, mas, se tivesse uma oportunidade, seria capaz de roubar dinheiro público. Essa intrincada relação entre poder e dinheiro move montanhas muito mais que possa sonhar nossa vã fé, já que não cabe nesse contexto os mistérios que nenhuma vã filosofia possa imaginar.
A sentença produzida pela pesquisa é polêmica e não pode ser considerada verdade absoluta. Se assim fosse, não haveria sentido termos justiça e cidadãos indignados que vêm engrossando movimentos contra a desordem instalada e incentivada por quem de direito. É o caso, por exemplo, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, que já emplacou mais de meio milhão de assinaturas favoráveis à causa.
Diante de iniciativas como essa, há como estimular um real sentimento de honestidade nos cidadãos? Há como acreditar na Justiça como resposta aos clamores de quem está cansado de ver desordem e falso progresso?
É um descalabro a fraude ao fisco que vinha sendo investigada pela “Operação Paço de Cristal”, desencadeada pela Receita Federal do Brasil e que detectou o desvio de mais de R$ 200 milhões praticado por 67 prefeituras do Pará, uma montanha de dinheiro que pode ser bem maior. E as irregularidades constatadas somam ainda o descumprimento de obrigação acessória, ou seja, a não-entrega da Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social (GFIP). Essa prática também configura crime tributário, tendo como uma de suas conseqüências aplicação de multa ao infrator, no caso, geralmente o gestor municipal. Uma multa de R$ 1,7 milhão já foi aplicada a um único prefeito, nessa operação, além de denúncia ao Ministério Público Federal por crime contra a ordem tributária.
Que governos foram esses que escolhemos no voto? Que gestores são esses em que depositamos confiança? Não há passe de mágica na transformação dos eleitos no trajeto entre palanque e o palácio, pois o projeto pessoal já estava definido, bem antes das promessas nos comícios em praça aberta ou nos programas de televisão.
O brasileiro - e muito menos o paraense - não pode ser confundido por conta do desmando, da desonestidade e da incúria de poucos. Como os que assumiram a responsabilidade de governar seus territórios, os mesmos que com suas gestões desastrosas, por exemplo, levam os holofotes para um estado como o Pará, que, lá fora, coleciona títulos encardidos, fichas sujas, corrupção galopante, assento especial no mapa nacional da pobreza divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome, fonte oficial de uma história triste da qual todos nós somos personagens – uns na miséria e outros se locupletando.
Como podemos nos proteger dessa bandidagem do colarinho branco? Como as lagostas, que precisam de um período de defeso? Não podemos nos aquietar nem nos conformar com a falsa premissa do “justiça seja feita” por tempo indeterminado.
O próximo dia 9 de dezembro, Dia Mundial de Combate à Corrupção, é um bom momento para manifestações contra esse estado de coisas. Em Belém, o tema será debatido em seminário organizado pela Controladoria Geral da União. Dias para reflexão e para soltar a voz. Assim podemos encontrar o caminho da Justiça e da punição para quem merecer ser punido.
Por falar em Justiça, mesmo quando ela se faz em pequenas causas, deixa florescer a crença de que o cidadão tem direitos inalienáveis. E por isso, vale a pena contar o caso de um empregado da empresa paranaense de transportes coletivos demitido por justa causa sob a acusação de ter violado norma interna ao comprar de um passageiro onze vales-transporte para uso pessoal. Ele conseguiu converter na Justiça Trabalhista a justa causa em dispensa imotivada. E a defesa precisa do ministro Ives Gandra Martins Filho, Tribunal Superior do Trabalho estabeleceu o equilíbrio dos pratos da balança ao sentenciar: “Deve haver proporcionalidade entre a conduta do empregado e a penalidade aplicada pelo patrão”. O ministro apresentou outros argumentos para a defesa do trabalhador, que tinha uma ficha exemplar.
Essa proporcionalidade entre a conduta dos gestores e a confiança neles depositada pelos eleitores pode muito bem ser aplicada nesse caso. Governos corruptos devem ser cassados por traírem a confiança do cidadão simbolizada pelo voto.